Guatemala e Nicaragua, uma paixão latina

Este roteiro não é para turistas e sim para viajantes. Pessoas livres e otimistas que encaram com leveza uma certa falta de planos e preferem viver suas próprias histórias ao ter um guia para tudo.

 

Foi por pura intuição que a minha primeira parada foi a Nicarágua. Tudo começou em agosto de 2016. Vi uma foto hipnotizante no Instagram de um jardim tropical, que literalmente “abraçava” uma piscina azul, revestida com uma cerâmica que lembrava a calçada de Copacabana. Era a piscina do Hotel Tribal, na cidade de Granada.

Nos meses seguintes, o Tribal foi meu assunto. Alguns amigos entraram na minha vibe e embarcaram junto. Foi mágico. Nosso voo saiu de São Paulo para Manágua, capital da Nicarágua. Lá, alugamos um carro e dirigimos por 40 minutos até Granada e esta era só a primeira aventura. Sem GPS ou Internet – não porque não queríamos, mas porque não conseguimos –, pegamos o mapa oferecido pela locadora e ficamos com aquela cara de “isto ainda existe? ” E lá fomos nós pela estrada à fora.

Granada é um charme! Fundada em 1524, é patrimônio histórico protegido pela Unesco e a mais antiga cidade colonizada das Américas. A vida pacata e a arquitetura colonial iluminaram e coloriram nossos olhos. Ao chegar ao Tribal, meu coração se encheu com uma sensação que interpretei como puro amor. Já no lobby, parecia que estava entrando em uma casa típica da região. A tal piscina fica no centro da propriedade de apenas sete quartos e foi instalada de forma a seguir os padrões da arquitetura colonial, lembrando os tradicionais jardins internos.

Tudo lá superou minhas expectativas, seja na decoração (com referências vintage e antiques) ou no atendimento, e me mostrou que aquele espaço definia meu real conceito de sofisticação. Yvan Cussigh and Jean-Marc Houmard, os sócios, são também os donos do Indochine e do Acme de Nova York. Ou seja, o hotel boutique está em linha com o jeito moderno dos dois de viver e se encaixa naquele lugar à beira do maior lago da América Central, cercado por vulcões.

 

Seguros de que corpo e alma estavam alinhados, partimos para mais nove dias na selvagem costa nicaraguense. Rancho Santana e Popoyo Beach foram nossa casa longe de casa e os detalhes destes dias, deixo que descubram com seus próprios olhos, quando visitarem.

Nosso próximo destino: Guatemala, mais especificamente o Hotel La Lancha, de propriedade do cineasta e diretor de O Poderoso Chefão, Francis Ford Coppola. Lá, nossa busca era por sossego extremo. Um voo de Manágua para Guatemala City e uma conexão até a cidade de Flores, no extremo norte do país, nos levou de encontro ao silêncio e a paz. Com apenas 10 casitas, incrustrado na mata e beirando o Lago Petén Itzá, um dos mais lindos da Guatemala, o La Lancha é um destino romântico mas sem dúvida, abraça qualquer coração, até os mais livres.

Logo na entrada, um lounge oferece drinks e pratos típicos com ingredientes colhidos na horta. Todas as noites, uma fogueira é acesa para que os hóspedes se sentem ao redor. Ao lado da fogueira, um forno funciona o tempo topo para assar tortillas. Um objeto curioso era o ShellPhone, um intercomunicador usado por nós para solicitar serviços de onde estivéssemos.

No segundo dia, surpresa: Mr. Coppola estava a caminho do hotel, com sua esposa Mrs. Eleonor, o filho Roman e seus dois netos. O staff estava ansioso e nós também! Ele não visitava La Lancha há sete anos. Nunca imaginei ter contato direto com a família, mas tudo conspirou para isso. Minha primeira conexão foi com Mrs. Eleonor. Nos encontramos logo cedo em um dos miradores, de frente para o lago. Sem perceber, a conversa fluiu. Falamos sobre assuntos mundanos e também sobre sua família e minha experiência em terras nicaraguenses. Nos despedimos e ela me incentivou a contar sobre minha jornada para seu marido Francis. Ao passar pelo restaurante, não tive dúvidas e nem timidez, cumprimentei o icônico diretor respeitosamente e engatamos em um longo papo sobre a Nicarágua e depois o Brasil. Ele falou de sua admiração pelo saudoso cineasta brasileiro Glauber Rocha e mencionou o filme Antônio das Mortes, como seu preferido. Por fim, pedi uma foto para esta matéria, ele sorriu e fez um gesto positivo.

Para arrematar esta viagem fascinante, seguimos para Tikal, uma cidade maia do período clássico (700 anos d.C.), que carrega informações arqueológicas preciosas e intrigantes. A maior lição resgatada deste povo que habitava a América Central e desapareceu misteriosamente, era seu entendimento sobre viver de forma tridimensional: a natureza, plano físico e plano espiritual. Com este pensamento, os ciclos do tempo faziam todo o sentido e, para mim, continuam fazendo.

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