A Sicília de Coppola é na verdade um recorte intimista da principal e mais fascinante ilha do Mediterrâneo
Por Flavia Ceccato
Localizada no sul da Itália, mais precisamente perto do “dedão da bota”, a Sicília é uma ilha de formato triangular banhada por três mares: o Mediterrâneo, o Jônico (presente nas paisagens que exploramos nos dois primeiros textos) e o Tirreno, para onde vamos agora.
Antes de seguir, vale lembrar que sua posição geográfica teve papel importante em inúmeros eventos históricos e é fruto da influência de diversos povos e culturas. Por isso, aqui uma dica: não importa o que te contaram sobre a Sicília, pois de nada vale visitar a ilha e se esbaldar com suas paisagens, se você não se envolver com as suas pessoas. Quando visitar os lugares icônicos citados aqui, desejo que tenha boas e longas conversas com os que vivem por lá, pois serão estas suas melhores memórias.
HISTÓRIA
A província de Palermo, onde fica também a capital da Sicília que tem o mesmo nome, é a estrela do último filme dos Corleone
Logo no início da trama, Michael (Al Pacino) aparece recebendo o título de Comendador. Mas ao saber que seus aliados foram massacrados pelos seus inimigos, sofre um infarto que o faz repensar suas escolhas. Para recuperar-se (ou fugir), mas principalmente para assistir a estreia de seu filho Anthony como cantor lírico, Michael parte com a família para Palermo e a primeira cena na cidade aparece como sendo na pequena vila de Bagueria, mas é possível ver o Templo Segesta que fica em um pequeno vilarejo que leva o mesmo nome do templo, na província de Trapani (em mais uma “costura estética” brilhante do cineasta). O templo é um dos mais conservados da história e está aberto ao público para visitação. Mas guarda mistérios sobre sua origem, pois apesar de apresentar características gregas, não se encaixa completamente nos costumes desta civilização por lhe faltar um propósito claro para seu uso.
ARQUITETURA
A família é recebida com festa e a casa onde ficarão hospedados é a belíssima Villa Malfitano Whitaker, que fica na cidade de Palermo (e não em Bagheria como o filme sugere novamente). É ali que são gravadas algumas cenas externas e internas.
A Villa Malfitano é um palácio neo-renascentista rural do século XIX e é hoje uma Fundação que exibe a história natural e as coleções arqueológicas da família Whitaker, bem como suas obras de arte. Seu interior é decorado com afrescos e ricos trompe-l’oeil com tapeçarias e esculturas. Seus sete hectares de jardins possuem espécies raras de muitos países e é aberto aos visitantes.
PESSOAS
A Sicília é uma terra para quem não tem pressa
Kay (Diane Keaton), ex esposa de Michael, chega para encontrar a família na estação de trem de Bagheria (mas como de costume, Coppola encontrou fotografia melhor para a cena, que foi filmada na belíssima estação de Taormina-Giardini).
Michael decide levar Kay para a costa oposta de Palermo (onde aconteceram as cenas dos dois primeiros filmes) para conhecer a história de sua família. Dirigem pelas colinas em direção a Corleone (só que não!), e cá estamos novamente na belíssima e pitoresca Forza D’Agro. Michael mostra a casa em que nasceu e onde seu pai foi morto e Kay se encanta com um casamento que está acontecendo na Chiesa Santa Maria Annunziatta e Assunta.
Clímax
É chegado o dia da estreia de Anthony, o Theatro Massimo em Palermo foi o escolhido pois é a maior Opera House da Itália. Porém estava em uma grande reforma interna em 1990 e as filmagens de seu interior foram feitas em estúdio na Califórnia. O Theatro, especialmente seu interior é deslumbrante e caso não consiga acesso aos concertos, é possível visitá-lo durante o dia.
UMA OBRA PRIMA FEITA DE CENÁRIOS E EMOÇÕES
Se ainda tínhamos alguma dúvida, percebe-se com mais força agora que o esforço de Coppola para dar algum valor ao caráter do mafioso, foi sem duvida, através da ligação do personagem com uma das instituições mais antigas do mudo: a família, do passado e do presente.
Nos conectamos com Michael e com sua origem e percebemos que a Sicília abre um caminho para conhecermos diferentes civilizações e que os traços da sua história permanecem vivos através de sua arquitetura, costumes e paixões.
THE END
Chegamos ao fim e espero que o passeio pelas locações de o Poderoso Chefão lhe desperte a vontade de saber mais sobre a vida simples da Sicília, tão necessária nos dias de hoje. Enquanto escrevo este texto, a Europa entra em uma segunda onda de “lock down” devido ao corona vírus e se fecha para o mundo novamente.
Sendo assim, se existe um meio perfeito para viajar agora, é sem dúvida o tele transporte, possível apenas através de duas brilhantes invenções humanas: o cinema e a música
O Poderoso Chefão está disponível pela Neflix e vale ver ou rever em ótima companhia. E para agora ou para quando pudermos debruçar nosso olhar nos três mares que banham a Sicília, segue aqui a playlist que mistura a trilha original com músicas que faziam sucesso na época.
Texto, pesquisa e trillha: Flavia Ceccato – Edição: Dani Pizetta – Imagens: Recortes de cenas do filmes de Coppola e Google Images.