A cantora escolheu o refúgio da família na serra fluminense para passar a quarentena. Por lá, repete com a filha Antônia a mesma vivência com a natureza que teve ao lado do pai
Texto Dani Pizetta
“Quando cheguei na casa de campo da minha mãe em Itaipava, interior do Rio, foi meio doido, pois percebi que você não chega na hora em que chega, leva um tempo até aterrissar”, diz Maria Luiza Jobim, ao relembrar os primeiros dias que passou com a filha Antônia, na época com 1 ano e meio, no refúgio da família que fica na serra fluminense. Era maio de 2020 e a cantora e compositora Maria Luiza, a pequena Antônia e o marido viviam os primeiros meses da pandemia recolhidos no apartamento do casal, que fica em São Paulo. Não é preciso ser mãe para imaginar que ter uma filha pequena em casa, sem acesso ao playground, é trabalho dobrado. Por isso, depois de alguns meses olhando a cidade apenas pela janela, o plano inicial de Maria Luiza era passar uma semana com a filha em meio à natureza, cercada pela Mata Atlântica, com um jardim amplo de grama cortada. O “respiro”, que duraria uma semana, já dura mais de um ano. E o marido da cantora, que ficou em São Paulo, já não mora mais no coração de Maria Luiza.
Por mais que nos sintamos seguras em um certo momento da vida, o melhor dela é o movimento
Por mais que nos sintamos seguras em um certo momento da vida, o melhor dela é o movimento. Em um piscar de olhos, Antônia vai crescer e deixar saudades de um tempo que não voltará, mas por sorte ou ironia do destino, Maria Luiza está grudada na filha, e o melhor, seu coração está em paz. “A troca intensa da maternidade combinada com a energia da natureza e o tempo da vida interiorana está sendo muito importante para Antônia e igualmente para mim”, disse a filha caçula de Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, mais conhecido pelo nome artístico Tom Jobim, e de Ana Jobim, uma mulher que de longe já me parece linda, de perto, então, deve ser um escândalo.
Apesar de Maria Luiza adorar São Paulo, e continuar com sua base na capital paulistana, admite que a cidade a afastou da criação musical. Por outro lado, foi justamente a velocidade urbana que impulsionou seu primeiro álbum solo: Casa Branca. E sobre estes contrastes, a cantora relembra: “desde pequena preciso da cidade tanto quanto da natureza; e isso não mudou”. Ao longo da conversa, percebi que a questão dos contrastes entre cidade e natureza podem ser similares para mim e para você, mas é diferente para os cariocas, e especialmente para Maria Luiza. Vou explicar: as primeiras memórias da caçula de Tom e Ana são das aventuras com os pais por Nova York, cidade para onde a família se mudou, tão logo Maria Luiza nasceu: “meu pai era muito dedicado à família naquela época, éramos muito unidos e eu tinha programas com ele como ir ao Central Park, ao Museu de História Natural e vivíamos a cidade e seus desafios o tempo inteiro, mas, mesmo lá, eu sentia a natureza em todo lugar”. A verdade é que quem nasce carioca, como Maria Luiza, tem uma floresta dentro de si. Para completar, a casa em que a família morou ao voltar de Nova York para o Rio, ficava dentro da Floresta da Tijuca, no Jardim Botânico, e isso é visualmente mágico.
A verdade é que quem nasce carioca, como Maria Luiza, tem uma floresta dentro de si
Crescer com um olho no piano do pai e outro na mata, certamente treinou o ouvido de Maria Luiza e educou seu olhar, mas a combinação das duas coisas formou uma artista que “canta palavras”, e usa a sinestesia para nos levar a lugares e sonhos. Com o mesmo carinho que contou à Bazaar sobre sua primeira infância em Manhattan, Maria Luiza também relembrou os dias mágicos que viveu em família no sítio do pai, apelidado de Poço Fundo, localizado a poucos quilômetros da casa em que está passando a quarentena com a filha. “Ter crescido tendo o sítio do meu pai como refúgio teve o mesmo impacto em mim que esta vivência terá na vida de Antônia, e isso é genial. Tenho memórias incríveis e me lembro das histórias fantasiosas que meus pais contavam sobre os sons da noite e as criaturas da natureza. Assim como eu, espero que minha filha carregue a floresta dentro dela.”
“Tenho memórias incríveis e me lembro das histórias fantasiosas que meus pais contavam sobre os sons da noite e as criaturas da natureza. Assim como eu, espero que minha filha carregue a floresta dentro dela”
A casa que acolheu mãe e filha durante a pandemia, é definitivamente um paraíso, os dias são calmos, mas produtivos. Muita coisa muda em um ano, e ao longo dos últimos meses, as duas já plantaram muitas árvores frutíferas, o que representa o começo de uma agrofloresta vislumbrada por Maria Luiza e sua mãe. “Viver aqui é uma escola para minha filha. Ela está aprendendo a perceber o tempo passar através das flores e das estações e pode acompanhar o dia virar noite”. Já para Maria Luiza, a natureza devolve inspiração. A cantora nos lembra que música nada mais é que tempo e harmonia, e, por lá, suas músicas desabrocham uma a uma, cada uma no seu tempo. Ao pensar em voltar para São Paulo, pergunto o que Maria Luiza trará na mala, e ela diz que definitivamente trará mais espaço “dentro dela”. Sobre o trabalho, o amor e a maternidade, conta que redescobriu a força de ser mulher, e que esta é a mais linda das naturezas.
Matéria publicada na Revista Harper´s Bazaar, seção ESCAPE, edição Maio/21. Texto Dani Pizetta / Imagens: acervo Maria Luiza Jobim