SALVADOR SEM AMORES DE CARNAVAL, MAS COM A PROFUNDEZA DAS AMIZADES

QUEM CONTA ESTA HISTÓRIA

Discreta na atitude, mas gigante na conversa, Marcia Mairinck é a protagonista deste ESCAPE. Nasceu em Niterói e se aninhou no Rio de Janeiro. Livre e disposta a explorar todo seu potencial humano, diz que veio ao mundo para sentir tudo, principalmente desconforto, pois acredita que é neste lugar que mora a evolução da espécie.

Somos tantas coisas, difícil me definir. Somos duais, carregamos tudo em nós e o que nos diferencia é como escolhemos expressar nossos sentimentos”, diz Marcia

Foi em um papo daqueles que rendem arrepios, risadas e emoções diversas, que Marcia abriu seu coração e contou porque decidiu passar as últimas férias em Salvador. Mas antes, pergunto como poderíamos apresentá-la neste texto: “somos tantas coisas, difícil me definir. Somos duais, carregamos tudo em nós e o que nos diferencia é como escolhemos expressar nossos sentimentos”, diz ela.

Definitivamente Marcia escolheu ser amorosa com as pessoas, e além de tudo, é raríssima pois adora fazer dog sitter para os pets dos amigos. Ainda não tem seu cãozinho próprio, mas diz que o universo tem enviado sinais de que ele está a caminho.  E se tem algo que mexe com seu coração é o trabalho voluntário que exerce na comunidade de Jardim Gramacho que fica em Duque de Caxias (RJ), onde leva não só amor, mas seu conhecimento na área da saúde.

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Fisioterapeuta graduada pela UFRJ, antes de fixar residência na cidade maravilhosa, passou oito anos trabalhando em Brasília e conta com bom humor, que durante este período, não teve um dia que não olhasse para o céu sem pensar: “puxa, hoje poderia dar praia”. O mar chamou e Marcia voltou ao Rio de Janeiro. Sincera, admite que se deslumbra diariamente com a vista que tem da varanda do seu atual apartamento, no bairro carioca da Barra da Tijuca. Mas mesmo cercada por tanta beleza, quando pensa em férias, quer outros ares. E foi assim, que depois de um ano “morando na varanda”, como ela diz, que tomou todos os cuidados e decidiu voar para Salvador. Além de amar a energia da Bahia, escolheu o destino pois é lá que mora seu grande amigo Ivar Brandi.

Se para qualquer viagem a companhia é fundamental, em meio a tempos difíceis como agora, é fator inegociável

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O MELHOR HOST DA BAHIA

Conversei por telefone com Ivar que é neurologista e se apresenta como um mineiro de Salvador. Já morou em todas as regiões do Brasil, incluindo o Rio de Janeiro, onde conheceu Marcia, mas foi na capital baiana que criou raízes. Ivar não só hospedou a amiga com segurança, como reservou alguns dias para acompanhá-la nos programas locais.

SEJA COMO FOR, SALVADOR FAZ FESTA NO NOSSO CORAÇÃO

Marcia conta que ao chegar no aeroporto de Salvador se deparou com um silêncio que jamais viu em outros tempos. Frequentadora dos carnavais da cidade há mais de quinze anos, percebeu que a cidade, assim como o resto do mundo, havia diminuído seu ritmo. Mas o que a fez sentir-se “em casa” foi uma frase de boas-vindas que fica no desembarque, “sua chegada faz festa no meu coração”. “É isso, disse ela, Salvador faz festa no meu coração e como venho para cá há muitos anos, não venho mais com a intenção de “turistar”, mas de aproveitar seus encantos através do olhar e da companhia do meu querido amigo. Fomos a lugares que ele conhece e somos parceiros do boteco ao restaurante chique, e isso, não tem preço”. Ao ver Salvador em silêncio, sem os famosos blocos na rua ensaiando para o carnaval e quase sem turistas, Marcia percebeu que nunca sabemos tudo sobre um lugar. “Por mais que voltemos a ele, sempre sentiremos algo novo”, diz ela.

Centro histórico de Salvador

Foram ao todo cinco dias na cidade, e por lá, os dois passearam de carro pela orla sentindo o vento leve que vinha do mar. Sem pressa, andaram pelo centro histórico cruzando com moradores locais que esbanjavam estilo e bossa. Contemplaram o sol, a brisa e a vista da Bahia de Todos os Santos, que um dia já foi chamada pelos Tupinambás de Kirimurê, cujo significado é “grande mar interior”.

Dentre os restaurantes, o eleito foi o La Taperia, especializado em comida espanhola com toque baiano. O bar e restaurante fica no Rio Vermelho, o bairro mais boêmio da cidade. “Ivar conhece o dono e os garçons e essa informalidade agrega muito a uma viagem, você não consome apenas as delícias que preparam, mas conversa com as pessoas e aprende coisas novas, inclusive sobre elas”.

Comida típica baiana

SEGUINDO VIAGEM

Prontos para mais dias de contemplação, os amigos estenderam a companhia um do outro e partiram para Morro de São Paulo. A famosa vila que fica na ilha de Tinharé é composta por cinco praias e fica há duas horas da capital baiana. O trajeto de barco é intenso pois o mar é agitado, mas vale cada balanço. Os dois se hospedaram na pousada Vila dos Corais que tem excelente infraestrutura e fica na terceira praia. Ao longo de todos os dias na ilha, Marcia e Ivar bateram altos papos, mas ela conta que lá pelas tantas, Ivar falou: “Marcia, você sabe que tem horas que gosto de ficar em silencio”. Ela disse: “eu também”. E foi neste momento que ela agradeceu a energia da Bahia, a todos os santos e ao Ivar por amizade tão generosa.

Já no final da conversa pergunto à ela quais os planos para as próxima férias, e Salvador está na lista novamente. Márcia ama o lugar independente do Carnaval. E assim, percebo que de modo geral todos nós viajamos por duas razões: para conhecer um lugar ou para reviver aqueles que tocaram nosso inconsciente.

E o que fica deste papo cheio de verdades é que, por razões diversas, acabamos criando laços com algumas cidades distantes, mas quando estas guardam nossos amigos… guardam também um pedacinho de nós

OXALÁ desejo forte de que algo aconteça

Marcia e o amigo Ivar

Texto Dani Pizetta, originalmente publicado na Revista Harper´s Brazaar Brazil, edição de Fevereiro, tema “Abraços”